Amores Mediterrâneos
1. O Último Ato do Velho General
Por um instante, o velho general não acredita em seus olhos.
As ondas altas do mar revolto estariam lhe pregando uma peça?
Ao longe, um pequeno grupo de embarcações se distancia aos poucos.
Entre elas, segue a única que realmente lhe interessa: aquela que carrega Cleópatra, fugindo da batalha.
O general vira o corpo e contempla o horizonte.
Por todos os lados, a cena é dantesca.
Seus barcos parecem feitos de papel, sofrendo com o fogo, afogando-se em sangue.
Sua outrora gloriosa frota afunda lentamente, desmoralizada.
Suas legiões apenas observam ao longe, o ocaso do grande líder.
Impotentes, acampadas e cercadas na costa grega, assistem a tragédia anunciada.
Marco Antônio, como todo grande homem, sabe que aquele momento é o seu fim.
Ainda que viva mais alguns anos, sua alma já não estará mais consigo.
De um só golpe, perdera tudo aquilo pelo que lutara a vida inteira.
Agora, enfrentava uma falsa escolha: morrer lutando com seus homens, ou perseguir sua amada rumo ao Egito.
Escolha falsa, porque seu coração não lhe permitiria fazer o que o corpo do velho soldado faria, em qualquer outra época de sua carreira: morrer lutando junto aos seus homens.
Juntos, haviam ajudado a reerguer Roma; haviam lutado lado a lado com as forças de César, para fundar o glorioso império que agora lhe escapava por entre os dedos.
De certa forma, o velho general esperava por isso.
Quando César fora assassinado, anos antes, um calafrio percorrera sua espinha, como sinal agourento de um destino fúnebre.
Como todo grande homem, entretanto, Marco Antônio não pretendia se render aos exercícios de futurologia.
Acreditava poder escrever seu próprio destino.
Por isso havia lutado a vida inteira.
Por isso havia se rendido aos encantos de Cleópatra e também por isso, se deixara convencer de que juntos, poderiam derrotar o franzino Otávio, filho adotivo de César.
Na prática e nos números, tudo indicava que era possível.
Tinha o dobro de galés, todas maiores e mais modernas que as de Otávio.
Além disso, tinha Cleópatra e as férteis terras do Nilo ao seu lado.
Mas, talvez, não tivesse o mais importante: a sobriedade para comandar seu exército com a razão, como sempre fizera.
Desta vez, ao contrário, Cleópatra se tornara sua única razão.
Aí residia sua tragédia, não podia ser um homem simples, devotado ao amor; nem ser o velho e impiedoso general.
Não era sua culpa.
Nenhum homem daquela época poderia sê-lo.
Menos ainda Marco Antônio.
Muitos já haviam sucumbido aos encantos daquela mulher e agora, chegara a sua vez.
Assim, resignado, Marco Antônio fugia da batalha.
Sabendo que nas redondezas de Actium, aquela insignificante baía do mar Jônico, na costa grega; deixava sua honra para trás.
Um a um, seus antigos companheiros desertariam de qualquer lealdade para consigo.
Um a um, trairiam sua confiança nos próximos meses.
Ou isso, ou estariam mortos pelas mãos do novo imperador.
Impotentes, acampadas e cercadas na costa grega, assistem a tragédia anunciada.
Marco Antônio, como todo grande homem, sabe que aquele momento é o seu fim.
Ainda que viva mais alguns anos, sua alma já não estará mais consigo.
De um só golpe, perdera tudo aquilo pelo que lutara a vida inteira.
Agora, enfrentava uma falsa escolha: morrer lutando com seus homens, ou perseguir sua amada rumo ao Egito.
Escolha falsa, porque seu coração não lhe permitiria fazer o que o corpo do velho soldado faria, em qualquer outra época de sua carreira: morrer lutando junto aos seus homens.
Juntos, haviam ajudado a reerguer Roma; haviam lutado lado a lado com as forças de César, para fundar o glorioso império que agora lhe escapava por entre os dedos.
De certa forma, o velho general esperava por isso.
Quando César fora assassinado, anos antes, um calafrio percorrera sua espinha, como sinal agourento de um destino fúnebre.
Como todo grande homem, entretanto, Marco Antônio não pretendia se render aos exercícios de futurologia.
Acreditava poder escrever seu próprio destino.
Por isso havia lutado a vida inteira.
Por isso havia se rendido aos encantos de Cleópatra e também por isso, se deixara convencer de que juntos, poderiam derrotar o franzino Otávio, filho adotivo de César.
Na prática e nos números, tudo indicava que era possível.
Tinha o dobro de galés, todas maiores e mais modernas que as de Otávio.
Além disso, tinha Cleópatra e as férteis terras do Nilo ao seu lado.
Mas, talvez, não tivesse o mais importante: a sobriedade para comandar seu exército com a razão, como sempre fizera.
Desta vez, ao contrário, Cleópatra se tornara sua única razão.
Aí residia sua tragédia, não podia ser um homem simples, devotado ao amor; nem ser o velho e impiedoso general.
Não era sua culpa.
Nenhum homem daquela época poderia sê-lo.
Menos ainda Marco Antônio.
Muitos já haviam sucumbido aos encantos daquela mulher e agora, chegara a sua vez.
Assim, resignado, Marco Antônio fugia da batalha.
Sabendo que nas redondezas de Actium, aquela insignificante baía do mar Jônico, na costa grega; deixava sua honra para trás.
Um a um, seus antigos companheiros desertariam de qualquer lealdade para consigo.
Um a um, trairiam sua confiança nos próximos meses.
Ou isso, ou estariam mortos pelas mãos do novo imperador.
Marco Antônio sabia, mas já não se importava.
Para ele, o ranger das galés partidas; as enormes colunas de fumaça preta em meio ao mar e até os gritos lancinantes de seus companheiros, não eram mais do que meras distrações, diante da visão de sua rainha desaparecendo no horizonte, rumo ao Egito.
2. O Choro do Crocodilo
Na popa de sua galé, Cleópatra tentava distinguir entre as colunas de fumaça ao longe, qualquer imagem que lhe desse esperanças, mas sabia que não havia saída daquela situação.
Como jovem apaixonada, havia jogado todos os seus trunfos, que não eram poucos; naquele homem que ficava para trás.
Mesmo que quisesse voltar, não poderia.
O vento forte soprava na direção de sua terra natal e seus homens não conseguiriam remar contra a maré, por mais dispostos que estivessem a seguir suas ordens.
O destino não lha apresentava alternativas.
Apenas a possibilidade de contemplar o horizonte.
As lágrimas começavam a escorrer suavemente por sua face.
Cleópatra não era mulher de se desesperar, mas era perfeitamente capaz de sentir uma tristeza profunda, angustiante.
Própria de quem sabia exatamente o que lhe esperava.
Pensava em seu filho, Cesareon, o menino que nascera para ser imperador, mas que agora, provavelmente seria morto por Otávio.
Para ela e Marco Antônio, o futuro seria ainda pior.
Estariam vivos, mas com seus sonhos despedaçados.
O império que imaginaram construir juntos, ficaria enterrado nas águas quentes do mediterrâneo.
A Grécia que lhe dera uma origem, agora, também lhe dava um fim.
Cleópatra já não conseguia ser discreta.
Chorava abertamente.
Por um instante, pensou em jogar âncora, para dar tempo a Marco Antônio de alcançá-la, mas sabia que seus oficiais não permitiriam.
E é aí que estava sua tragédia.
Não podia ser simplesmente uma mulher apaixonada.
Mas, também já não era mais a rainha do Egito.
Daquele ponto em diante, Cleópatra não era mais nada, além de um ser humano sem futuro.
Imaginava que todos os seus feitos seriam apagados, seu país seria escravizado e quanto a ela própria, cabia apenas uma decisão: escolher a hora da morte.
Sabendo disso, a rainha enxugava as lágrimas: se esta era sua última ação possível, faria dela o melhor possível…
Repentinamente, o comandante da galé interrompe os devaneios de Cleópatra:
- Minha rainha, já estamos fora de alcance, devemos…
Como jovem apaixonada, havia jogado todos os seus trunfos, que não eram poucos; naquele homem que ficava para trás.
Mesmo que quisesse voltar, não poderia.
O vento forte soprava na direção de sua terra natal e seus homens não conseguiriam remar contra a maré, por mais dispostos que estivessem a seguir suas ordens.
O destino não lha apresentava alternativas.
Apenas a possibilidade de contemplar o horizonte.
As lágrimas começavam a escorrer suavemente por sua face.
Cleópatra não era mulher de se desesperar, mas era perfeitamente capaz de sentir uma tristeza profunda, angustiante.
Própria de quem sabia exatamente o que lhe esperava.
Pensava em seu filho, Cesareon, o menino que nascera para ser imperador, mas que agora, provavelmente seria morto por Otávio.
Para ela e Marco Antônio, o futuro seria ainda pior.
Estariam vivos, mas com seus sonhos despedaçados.
O império que imaginaram construir juntos, ficaria enterrado nas águas quentes do mediterrâneo.
A Grécia que lhe dera uma origem, agora, também lhe dava um fim.
Cleópatra já não conseguia ser discreta.
Chorava abertamente.
Por um instante, pensou em jogar âncora, para dar tempo a Marco Antônio de alcançá-la, mas sabia que seus oficiais não permitiriam.
E é aí que estava sua tragédia.
Não podia ser simplesmente uma mulher apaixonada.
Mas, também já não era mais a rainha do Egito.
Daquele ponto em diante, Cleópatra não era mais nada, além de um ser humano sem futuro.
Imaginava que todos os seus feitos seriam apagados, seu país seria escravizado e quanto a ela própria, cabia apenas uma decisão: escolher a hora da morte.
Sabendo disso, a rainha enxugava as lágrimas: se esta era sua última ação possível, faria dela o melhor possível…
Repentinamente, o comandante da galé interrompe os devaneios de Cleópatra:
- Minha rainha, já estamos fora de alcance, devemos…
A rainha levanta a mão, silenciando o comandante imediatamente.
Lança-lhe um olhar vazio e cruel, como que revelando o destino trágico que lhe espera:
- Faça o que tiver que fazer.
Ela se retira.
Nos próximos dias, quase ninguém a verá.
Estará solitária, esperando que Marco Antônio consiga chegar até ela.
Lança-lhe um olhar vazio e cruel, como que revelando o destino trágico que lhe espera:
- Faça o que tiver que fazer.
Ela se retira.
Nos próximos dias, quase ninguém a verá.
Estará solitária, esperando que Marco Antônio consiga chegar até ela.
3. Antônio e Cleópatra
Havia apenas um erro no julgamento de Cleópatra: seus feitos jamais seriam apagados.
Muitos historiadores bem que tentariam ignorá-la, fazendo-a desaparecer nas notas de rodapé, mas o amor é capaz de pregar peças até mesmo nos mais incrédulos.
Por amor, Marco Antônio desistiu de si mesmo, deixando de ser o militar orgulhoso de outrora, para se submeter aos caprichos da rainha.
Pensando que ela havia se suicidado, tentou se matar, mas dizem que houve tempo para que o levassem até ela, antes de exalar seu último suspiro.
Por amor, Cleópatra acreditou que poderia vencer o poderoso império romano, ignorando sua tradicional sensatez, se lançando em uma aventura militar tresloucada.
Tendo Marco Antônio morto em seus braços (novamente, segundo dizem), tratou de engendrar para si, o suicídio mais famoso da história.
Com ela, morria também o Egito, reduzido a mera província romana.
Mas, Cleópatra e Antônio tiveram a sua pequena vitória, ao negar a Otávio o direito de desfilar triunfante em Roma, com ambos prisioneiros.
Eu sei porque estava lá.
Na popa da galé, olhando aqueles olhos grandes, negros e vazios, que me diziam não existir futuro algum.
Eu sei, não porque os conhecesse intimamente, mas porque acompanhei-os na derrota final.
Porque pude ver nos olhos de Cleópatra, tudo aquilo que sua alma queria dizer, mas seus lábios jamais proferiram para qualquer mortal.
Em sua honra, me mudei para Actium e não há uma manhã em que não olhe para o mediterrâneo, mantendo viva a lembrança do que o amor é capaz de fazer, mesmo nestes tempos de pura brutalidade.
Chegará o dia em que o império cairá e então, minha rainha estará vingada no plano terreno, porque entre os deuses, sua eternidade está garantida.
Muitos historiadores bem que tentariam ignorá-la, fazendo-a desaparecer nas notas de rodapé, mas o amor é capaz de pregar peças até mesmo nos mais incrédulos.
Por amor, Marco Antônio desistiu de si mesmo, deixando de ser o militar orgulhoso de outrora, para se submeter aos caprichos da rainha.
Pensando que ela havia se suicidado, tentou se matar, mas dizem que houve tempo para que o levassem até ela, antes de exalar seu último suspiro.
Por amor, Cleópatra acreditou que poderia vencer o poderoso império romano, ignorando sua tradicional sensatez, se lançando em uma aventura militar tresloucada.
Tendo Marco Antônio morto em seus braços (novamente, segundo dizem), tratou de engendrar para si, o suicídio mais famoso da história.
Com ela, morria também o Egito, reduzido a mera província romana.
Mas, Cleópatra e Antônio tiveram a sua pequena vitória, ao negar a Otávio o direito de desfilar triunfante em Roma, com ambos prisioneiros.
Eu sei porque estava lá.
Na popa da galé, olhando aqueles olhos grandes, negros e vazios, que me diziam não existir futuro algum.
Eu sei, não porque os conhecesse intimamente, mas porque acompanhei-os na derrota final.
Porque pude ver nos olhos de Cleópatra, tudo aquilo que sua alma queria dizer, mas seus lábios jamais proferiram para qualquer mortal.
Em sua honra, me mudei para Actium e não há uma manhã em que não olhe para o mediterrâneo, mantendo viva a lembrança do que o amor é capaz de fazer, mesmo nestes tempos de pura brutalidade.
Chegará o dia em que o império cairá e então, minha rainha estará vingada no plano terreno, porque entre os deuses, sua eternidade está garantida.
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